top of page

RESENHA DO LIVRO "UM DIÁRIO DO ANO DA PESTE" DE DANIEL DEFOE

  • Cristhian Yohan Castanharo Fernandes
  • 31 de jul. de 2020
  • 6 min de leitura

Por quantas vezes enfrentamos pandemias na história da humanidade?

Certamente, foram inúmeras vezes. Tanto as documentadas, quanto as não documentadas…. Contudo, é com base nas pandemias documentadas é que podemos ter uma base de como agir em tal situação, e hoje, com a pandemia do COVID-19, não é diferente. Um bom livro para começar a ter um bom entendimento das ações a serem tomadas, como ações que podem acontecer, tanto no governo quanto na sociedade é Um Diário do Ano da Peste.

O conto Um Diário do Ano da Peste, escrito por Daniel Defoe em 1722, explana a partir de diferentes relatos a Peste Bubônica, doença epidêmica que atingiu a Europa no século XIV. Defoe é um escritor britânico, nascido em meados do séc. XVII, conhecido por escrever romances dos quais destaca-se Robinson Crusoé, de 1719, obra mais famosa do autor. O escritor utiliza, em seus livros, relatos que trazem uma verossimilhança à obra. Dentre os escritos de Defoe, o conto de 1722 é o escolhido a ser resenhado nesse texto.

Fig. 1- Daniel Defoe

O livro é escrito na forma de um diário jornalístico, misturando realidade e ficção apresentando um senhor comerciante da cidade de Londres, que possui um comércio que é afetado pela peste, assim como todos os demais. No começo, o comerciante decide-se entre o interior do país, que era rural, ou se ficaria na cidade com suprimentos quando a pior fase da doença alcançasse seus arredores. Ele decide-se por ficar em sua casa e escrever para quem possa vir a ler no futuro e passar por situações análogas.

A personagem nos apresenta a peste (ver Figura 2 e 4), fazendo relatos sobre o número estranho de mortos e enterros que tinha aumentado de maneira abrupta nos meses de dezembro à fevereiro daquele ano. Mais ainda, relata como a sociedade começava a se comportar diante daquele inimigo oculto e perigoso, que já havia devastado a Turquia, Nápoles e a Holanda, e, de como ele e a população estavam se preparando para a pior fase, na qual chegaria a atingir a todos os seus vizinhos. Além disso, expõe como as autoridades inglesas, sobretudo o Lorde Prefeito, o reino e vereadores, estavam lidando com a situação: dividindo funções; empregando os mais necessitados; aplicando isolamentos compulsórios em doentes e suas respectivas famílias; ordens de limpeza e manutenção de reuniões grupais em estabelecimentos fechados, como casas de espetáculos de bebidas e; a ajuda aos mais marginalizados da sociedade, com alimentos e dinheiro. Após, ele também conta algumas histórias que ouviu e vivenciou, recorrendo, de vez em quando, a algumas passagens bíblicas ou à metafísica para tentar explicar os ocorridos.

Relata, em seguida, como era o isolamento das famílias e suas consequências, além de situações presenciou, procurando explicar o terrível aumento no número de mortos e infectados e o porquê de tudo aquilo estar acontecendo. Nesta parte a personagem também mostra como a doença estava evoluindo pelas cidades e quais partes eram as mais infectadas, além de mostrar como eram 'enterrados' os corpos aos montes, independentemente da classe social a qual pertencia. A vida dos mercantis isolados e seus navios em alto mar também foi evidenciada.

Fig. 2 - Representação da Peste nos dias atuais.

Enfim, a personagem nos conta, ainda, a vida dos barqueiros, dos marinheiros (estes em guerra contra Holanda) e da vida no pico da infestação. Ele expõe mais histórias por qual passou e de como a vida foi voltando ao normal após tal pico de infestação mostrando seus cálculos semana após semana. Também apresenta como realmente crê que a peste chegou na Inglaterra e de como ela atrapalhou os negócios mercantis. Por fim, relata que a peste continuou matando aos montes, porém em quantidade muito menor, e o quão felizes as pessoas estavam voltando a sua normalidade, apesar de tudo o que havia ocorrido com elas.

Fig. 3 - Representação da II Guerra Anglo - Holandesa. A Batalha de Quatro Dias, por Abraham Storck, 1666.

Defoe em sua narrativa árdua nos oferece conhecimento sobre o comportamento humano em casos extremos como a pandemia da peste negra, apresentando-os desde os atos maliciosos até os nobres, sendo o primeiro apresentado, a evasão das cidades feita por quem possuía condições e abrigo fora de Londres. Além dessa atitude, a que fica mais evidente durante o livro foi a divulgação de falsas notícias, como: as paróquias ocultando o número real de mortes da peste durante as primeiras semanas da doença, para não causar pânico na população; falsos médicos, macumbeiros, bruxas e astrônomos espalhando suas “curas e prevenções” da peste em troca de dinheiro e diversas pessoas que foram tomadas pelo medo espalhando suas crenças, causando um pânico maior ainda.

Além dessas informações, o narrador mostra como foi a atitude das pessoas diante o isolamento dos infectados e suas famílias em suas casas, um ato do governo a fim de minimizar a contaminação, que no fim trouxe muito mais consequências do que benefícios para os contaminados e quem estava em sua volta, como suicídios, brigas e até morte dos vigias, que eram os responsáveis por não deixar ninguém sair de uma casa dita fechada. Isso ocorreu pelo medo da morte, pois quem estava isolado, também estava preso com quem estava contaminado. O narrador conclui que a solução mais eficaz seria os pestilentos serem mandados para o hospital específico para esse caso, porém só haviam dois hospitais preparados, que não foram suficientes para atender todos os casos.

Durante a narrativa fica claro que as pessoas mais afetadas nessa época foram os pobres, além de não conseguirem meios de se prevenir da peste foram os primeiros durante a crise ocorrida pela peste a perderem os empregos e caírem na miséria. A atitude tomada na época para evitar que a miséria gerasse grandes ondas de crimes foi a doação semanal de dinheiros nas quatro áreas mais afetadas.

O livro pode ser uma fonte de conhecimento que ajuda as pessoas a entender a pandemia causada pelo COVID-19 (novo coronavírus) e assim tomar os cuidados necessários. Mesmo que sejam doenças diferentes, a peste descrita por D. Defoe, em seu livro, causou impactos na sociedade europeia muito semelhantes aos impactos que o Coronavírus vem causando no mundo. Dentro desses fatores, vale destacar os econômicos: embora as pessoas soubessem da peste, elas se arriscaram trabalhando, principalmente as mais pobres, que aceitavam qualquer trabalho que lhes eram oferecidos. Isso culminou em um aumento excessivo da peste, levando o Lorde prefeito a promover o isolamento social. O que se mostrou um método eficaz para que algumas pessoas se salvassem, embora muitas já estivessem contaminadas. Ainda durante a peste, surgiam pessoas de todo o tipo se dizendo capazes de curar a doença com poções milagrosas e com cápsulas para evitar o contágio. Sob esses aspectos, é inegável a importância do isolamento social como veículo retardador do coronavírus, bem como a presença da ciência como forma de vencer a atual pandemia e ainda de superar todo o misticismo com fatos verdadeiros e coerentes, fazendo com que as pessoas não acreditem em qualquer coisa, retardando ainda mais o crescimento da doença.

Em suma, o marco histórico causado pela peste nunca será esquecido. Entender como os antepassados passaram por esses momentos de pandemia é um fator de extrema importância para ajudar as pessoas a superarem a crise atual, pois elas podem comparar as medidas tomadas durante a peste, e as consequências que essas medidas trouxeram. Segundo o autor, ao fim da peste, cerca de 100 mil pessoas morreram, mas atualmente, com a ciência e tecnologia mais desenvolvidas, a sociedade possui ferramentas poderosas para combater a pandemia do COVID-19 e busca esperançosamente conter a proliferação da doença no Brasil que, até o dia 26 de junho de 2020, tem quase 500 mil pessoas contaminadas e quase 55 mil pessoas mortas pela doença. Vale ressaltar que, ao todo, o Brasil teve cerca de 1,23 milhões casos confirmados, dos quais aproximadamente 675 mil se recuperaram.

Figura 4 - Representação do dia a dia das pessoas durante o tempo da peste.

Referência dos dados da COVID-19 no Brasil:

[1] Painel do COVID-19. Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: <https://covid.saude.gov.br/>. Acesso em: 26 de junho de 2020.

Escrito por:

Cristhian Yohan Castanharo Fernandes

Gabriel Felipe de Souza Gomes

Gabriel Tolardo Colombo

João Augusto Alves Leite Gleden

Todos os autores desta resenha são acadêmicos do curso de Física na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET) no grupo específico de Física.

Comentarios


Siga o PET Física: 
  • Branco Facebook Ícone
  • Branca Ícone Instagram
O Grupo:

Com doze integrantes e o tutor, o grupo desenvolve diversas atividades que envolvem as áreas de ensino, pesquisa e extensão. A equipe também se empenha em divulgar ciência e consciência para a comunidade acadêmica e pública em geral.
Saiba mais na aba Atividades!
Inscrições PET Física
EM breve abriremos inscrições
EVENTOS
  • EPAST - 16 Á 19 de junho
  • ​ENAPET - 19 á 23 de setembro
PROJETOS
  • Experimentos antigos
  • ​astronomia

LINHAS DE PESQUISA

  • RPG na educação
  • ​astronomia nas escolas
  • comprimentos de onda

Universidade Estadual de Maringá, Avenida Colombo, Zona 07, Maringá PR

Bloco F-67, Sala 014

Telefone: (44)3011-5932

petfisicauem@gmail.com

© 2024 PET-Física UEM

  • Branco Facebook Ícone
  • Branca ícone do YouTube
  • Branca Ícone Instagram
bottom of page