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  • Maria Clara Giacometti Paulino e Nuria Criado Scarpin

A Pseudociência em Tempos Modernos

Figura 1: Tira do Armandinho

A partir do estudo da etimologia (origem das palavras), sabemos que ‘ciência’ vem do latim e significa ‘conhecimento’, enquanto a palavra pseudo, de origem grega, significa ‘mentira’ ou ‘falsidade’. Dito isto, podemos definir pseudociência como ‘falso conhecimento'. Qualquer informação do senso comum que abusa de frases como: baseado em fatos científicos e provado cientificamente , e caracterizadas por análises rasas com métodos suspeitos de baseados em crença popular, midiática ou de ideologias fascistizantes, não se sustenta de forma alguma. Porém, ainda assim, grande parte das pseudociências se mantém populares, baseadas na crença das pessoas que as disseminam.

Para que algo seja considerado ciência, devem ser realizadas observações e experimentações, para a garantia de um conhecimento comprovado. Essa comprovação é fundamentada em métodos científicos, procedimentos fundamentais na investigação de pesquisas científicas. O método científico estruturou-se após os trabalhos de Galileo Galilei, especialmente após sua obra Discorsi intorno a due nuove scienze (1632). Podemos definir os métodos empregados na ciência como um conjunto de suposições, hipóteses, que serve de guia para atingir os objetivos necessários dentro de uma pesquisa científica e, o mais importante, obter conhecimento válido e científico.

No primeiro passo: a observação, um fenômeno ao ser observado gera dúvidas a respeito de sua natureza, e é a partir dessas perguntas sem respostas que são criadas hipóteses acerca do porque acontece o que foi observado. A observação, em geral, é theory laden, ou seja, carregada de teoria, pois, de forma figurada, é sempre necessário chegar na escuridão munido de uma boa lanterna. A formulação dessas hipóteses é o segundo passo do método científico. O terceiro, consiste na realização do experimento: nesta etapa observamos o comportamento do objeto nas condições ideais para se analisar o que foi proposto anteriormente. E por fim, a quarta e última etapa: a verificação da hipótese, que determina se ela está correta ou se deve ser rejeitada. Nesse caso, gera-se a necessidade de reformular ou criar uma nova hipótese. Também há a possibilidade de mais de uma hipótese estar correta, nessa situação os cientistas optam pela mais simples, devido à sua maior probabilidade de estar certa.

Se após a conclusão de todos os passos o resultado final for de aceitação, as afirmações geradas pelo estudo são consideradas teorias. Obviamente, a experimentação deve ser feita várias vezes e com o máximo de variáveis possíveis, o que dará ainda mais valor para as afirmações já estabelecidas. Enquanto isso, nas hipóteses pseudocientíficas, praticamente não há necessidade de experimentação pois é aceita independentemente dos resultados, visto que sua veracidade é definida pela crença (portanto, um ato da irracionalidade).

Com o advento da chamada revolução digital e dos produtos tecnológicos decorrentes dela, bem como o surgimento da internet e das redes sociais, os meios de comunicação e de propagação de dados tornaram-se cada vez mais acessíveis e rápidos, de forma que qualquer informação pode ser facilmente disseminada em massa. Nesse contexto, a sociedade moderna possui contato com uma imensa quantidade de notícias, ideias e informações todos os dias. No entanto, a grande liberdade de compartilhamento de dados no meio digital não estabelece um filtro eficaz em relação à veracidade das informações compartilhadas ou publicadas pelos usuários, dando vazão à difusão de fake news e pseudociências, dependendo deles a interpretação e seleção de fontes confiáveis.

Essa conjuntura evidencia a problemática da falta de compreensão, interpretação, análise e pensamento crítico de uma parte considerável da sociedade nos tempos atuais. Em pleno século XXI, apesar de numerosas experiências e demonstrações feitas até o momento, há pessoas que acreditam nos mais variados tipos de pseudociência como o terraplanismo, homeopatia, misticismo quântico, constelação familiar, cristaloterapia ou astrologia e duvidam da eficácia das vacinas, de tratamentos medicamentosos para depressão ou doenças psiquiátricas, da ida do homem à Lua, da existência de uma crise ambiental e climática no planeta, do uso de drogas ineficazes para a COVID e tantos outros assuntos polêmicos amplamente investigados e testados pelo método científico.

Após o golpe de Estado de 2016 e, especialmente, o de 2018, instituiu a pseudociência como desinformação cotidiana, numa ação sistemática de necropolítica para destruir a ciência, a cultura, a educação e, enfim, o discernimento.

Dessa maneira, se torna necessário salientar a importância do combate ao analfabetismo científico. Primeiramente seria imprescindível que órgãos reguladores adotassem medidas agressivas para responsabilizar empresas, profissionais e usuários quanto à disseminação de desinformação de modo a limitar a liberdade de publicar informações não comprovadas. No entanto, de nossa parte como indivíduos da sociedade, para evitar cair em pseudociências e outros tipos de desinformação como as fake news, vale verificar as fontes da informação em questão: conferir se o site é confiável, se o autor possui algum grau de autoridade no assunto. Checar as datas do artigo também é importante, pois a informação pode ter sido válida há muito tempo atrás, mas não necessariamente pode-se afirmar o mesmo para os dias de hoje. Ademais, é pertinente desconfiar de títulos e posicionamentos radicais, que fogem do senso comum, ou se outros meios de comunicação conhecidos não fornecerem a mesma informação. Por fim, ler a matéria completa é essencial para ter uma boa compreensão do que o texto comunica, bem como pesquisar em várias fontes sobre o mesmo assunto a fim de evitar parcialidade e por meio do cruzamento de diversas informações, analisar e verificar a qualidade e veracidade das mesmas.

Importante salientar aqui que a discussão vai muito além do texto aqui exposto. Para informações mais aprofundadas é necessário estudar autores como Thomas Kuhn, Paul Feyerabend, Karl Popper, Imre Lakatos, Laudan, entre outros epistemólogos.



Referências:


[1] “Ciência, pseudociência e o fascínio popular”. Periódicos UEM. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/9540/5323. Acesso em 06 de Junho de 2022.


[2] VICENTE, Renato. “Ciência e Pseudociência”. EACH USP, 2008. Disponível em: http://www.each.usp.br/rvicente/TADI04_CienciaPseudociencia.pdf. Acesso em 06 de Junho de 2022.


[3] “Método Científico: definições, aplicações, principais tipos e etapas”. Fadepe, 16 jun. 2021. Disponível em: https://fadepe.org.br/2021/06/16/metodo-cientifico-definicoes-aplicacoes-principais-tipos-e-etapas/. Acesso em 06 de Junho de 2022.


[4] “'Pseudociências matam': o manifesto de 2.750 especialistas contra 'tratamentos alternativos'”. BBC News Mundo, 29 out. 2020. Disponível em:

https://www.bbc.com/portuguese/geral-54727068. Acesso em 06 de Junho de 2022.


[5] “Cinco dicas para não cair em fake news”. Brasil do Amanhã, 2018. Disponível em:


[6] Figura 1: NSCTOTAL. Tira do Armandinho. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/noticias/confira-a-tira-do-armandinho-desta-terca-feira-0. Acesso em: 17 de ago. de 2022.


[7] kUHN, T.S. “A Estrutura das Revoluções Científicas”. São Paulo: Perspectiva, 1987.


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