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Balística Forense

  • Camila S. Souza e Caio J. O. Luiz
  • 4 de jun. de 2024
  • 5 min de leitura

A medicina criminal foi criada pela necessidade de determinar as causas das mortes após os povos germânicos e eslavos derrubarem o Império Romano na Europa Ocidental. Ela também foi demasiadamente utilizada por povos antigos para determinar o suícidio que era visto como um espírito que possuía o suicida e o induzia ao ato e, em alguns locais, como Roma por exemplo, as pessoas que cometiam suícidio eram observadas como traidores do governo sendo condenadas. Em todos os casos era preciso um médico com experiência na área. Conforme a sociedade evoluiu, a medicina forense se dividiu em várias áreas, onde uma delas é a balística forense.

A balística forense utiliza-se da Mecânica Clássica para o estudo de crimes envolvendo armas de fogo em prol da solução dos casos policiais. É a partir dela que é possível identificar qual arma foi usada, quem a empunhou, os efeitos do disparo, entre outras coisas importantes.

 Em sua dissertação, Daniel Marques explica o quão antigo é a necessidade do homem de alcançar objetos distantes:


Pode-se assumir que a balística teve início com o lançamento da primeira pedra por um homem pré-histórico, e a consequente necessidade de alcançar objetos cada vez mais distantes, o que levou ao aparecimento da funda e da lança. Seguiu-se o arco e, posteriormente a ballista, cujo nome provém da palavra grega ballein, a qual significa lançar (atirar, arremessar), tendo capacidade de lançar grandes flechas. É do nome desta arma que surge a palavra balística. 

(MARQUES, D. F. F. Estudo de Balística Interna, 2014. Técnico Lisboa.) 


No decorrer dos séculos, com o surgimento das armas de fogo, é notável que elas foram (e são!) muito mais utilizadas para acabar com a vida de alguém ou ferir do que apenas alcançar objetos distantes. Por essa razão, a medicina criminal se especializou a tal ponto que passou a elucidar crimes com melhor precisão. 

Na balística existem três divisões: interna, externa e de efeitos.



Balística Interna

A balística interna estuda os processos termodinâmicos e a atividade do projétil no interior da arma. As armas de fogo funcionam da seguinte forma: há uma câmara com pólvora onde em uma extremidade existe um composto que inicia a combustão da pólvora e na outra extremidade fica o projétil.




Quando iniciada a combustão, o gás se expande de tal forma a lançar o projétil com velocidade e aceleração muito grandes até o alvo. Podemos ver pela equação presente na figura 1 que o volume da câmara (Vcc) influencia indiretamente na pressão (P) que o gás faz contra o projétil e, como a câmara da arma é sempre muito menor se comparado ao volume do gás, a pressão sempre será muito grande.



Figura 2 - Equação da pressão do gás após sofrer combustão.

Fonte: Cronemberger, P. O. Carvalho, M. S. Rezende, A. L. T. Caldeira, A. B., 2016



Balística Externa

A balística externa aborda a trajetória do projétil logo após sua saída do ponto de origem, sua velocidade inicial, movimento, massa, resistência do ar e influência da gravidade. O ângulo em que o projétil é disparado também dita a eficiência em que ele irá alcançar seu alvo, mesmo em uma arma de fogo, onde a pólvora presente na extremidade do projétil quando acionado, explode, causando, dessa maneira, um impulso e, consequentemente, um ganho extraordinário de energia cinética (figura 2).

 

Figura 3 - Gráfico de lançamento oblíquo


Balística de Efeitos

         Em última instância, a balística de efeitos tem como foco o resultado final entre a relação do projétil e seu alvo, sendo, um deles, a penetração/perfuração. Ambos são similares mas com danos diferentes ao que foi atingido.

      Enquanto a penetração causa uma irregularidade na superfície do alvo, a perfuração atravessa o alvo por completo desde a área atingida, até percorrer e sair do outro lado. Segundo Carlucci e Jacobson (2008), para que ocorra tais consequências, um dos pivôs tem de ser a massa do projétil, o formato de sua ponta, a rigidez do material e a velocidade do mesmo. 



Mas quais critérios um perito balístico utiliza para explicar um crime? Em 1835, Henry Goddard, a partir de um molde feito de um projétil de prova, percebeu que todas as balas lançadas a partir dele apresentavam a mesma falha, essa falha hoje é chamada de abrasões ou estrias e serão sempre as mesmas se forem disparadas de uma mesma arma, pois em cada uma delas há peculiaridades únicas no cano, informando ao perito qual arma foi usada para disparar determinado projétil. A perícia pode ser feita tanto indiretamente, como no caso das abrasões características, e diretamente quando se analisa a própria arma de fogo. 

Na perícia balística direta, é importante testar se a arma está com seu funcionamento correto e verificar se o disparo pode ter sido acidental ou não, principalmente em homicídios. Caso a arma tenha partes danificadas, como o número de série, é necessário lidar com reagentes químicos e também verificar se o projétil foi atirado recentemente.

 Iruthayaraj conta em seu artigo: 


No início de 1900, a ciência havia progredido a um ponto em que balas e cartuchos podiam ser identificados e ligados a uma arma específica. Outra figura proeminente na história da Balística Forense é Edwin John Churchill, um fabricante de armas que abriu um negócio em The Strand, Londres e se tornou um especialista em armas frequentemente consultado pela Scotland Yard. A partir dos frequentes experimentos realizados com disparos de balas em cabeças de ovelhas, que ele convenientemente obteve no açougue vizinho, ele foi capaz de fazer observações completas relativas a marcas de pólvora, penetração e destruição de tecidos e, eventualmente, determinar se os ferimentos de bala eram auto-infligidos ou não. Em 1903, ele forneceu provas periciais em um dos casos mais notórios que Clavering, Essex, já testemunhou. Os restos mortais de Camille Cecille Holland, uma solteirona rica de 56 anos, foram descobertos em uma vala de drenagem em Moat Farm, Clavering, Essex. Uma autópsia revelou que ela havia levado um tiro na cabeça. Churchill examinou a munição encontrada na fazenda e, ao realizar experimentos em cabeças de ovelhas, foi capaz de produzir as mesmas fraturas no crânio que a bala encontrada no crânio da Srta. Holland. Ele testemunhou que a bala foi disparada de um revólver recuperado na Fazenda Moat, a uma distância de quinze a trinta centímetros. Esta evidência incriminou Samuel Herbert Dougal, um mulherengo em série que encantou a solteirona endinheirada, apenas para matá-la no espaço de três semanas e forjar a sua assinatura para obter grandes somas de dinheiro da sua conta bancária. Dougal compareceu perante o Sr. Juiz Wright em Chelmsford em junho de 1903 e foi considerado culpado do assassinato intencional da Srta. Holland. Ele foi enforcado na prisão de Chelmsford em 14 de julho de 1903.

 (IRUTHAYARAJ, 2004) 


Portanto, pode-se concluir que a medicina forense, em especial a balística forense, é uma ciência importante para desvendar crimes brutais causados por delinquentes e facínoras. 



Referências


Balística Forense: perícia em armas de fogo e munições. Blog IPOG, 2016. Disponível em: https://blog.ipog.edu.br/tecnologia/pericia-em-armas-de-fogo/. Acesso em: 29/05/2024.

Balística terminal: estudo do comportamento de projéteis na estrutura de viaturas. Carlucci, D., & Jacobson, S. (2008). Theory and design of guns and ammunition. CRC Press. Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, Lisboa, 2019.

BERNARDO, N. Lançamento: o que é Lançamento oblíquo? Vamos Estudar FÍsica, 2016. Disponível em :  https://vamosestudarfisica.com/lancamento-o-que-e-lancamento-obliquo/. Acesso em: 04/06/2024.

Cronemberger, P. O.; Carvalho, M. S.; Rezende, A. L. T.; Caldeira, A. B. Estimativa de parâmetros da Lei de Queima de Propelentes a partir da balística interna de uma arma. Centro Tecnológico do Exército, Grupo de Armamento e Munição, 2016.

IRUTHAYARAJ, P. M. P. Forensic Ballistics. Calgary: University of Calgary, 2004.

MARQUES, D. F. F. Estudo de Balística Interna. Lisboa: Técnico, 2014.

McCOY, R. Análise de balística externa de um projétil de calibre 155 mm. Técnico Lisboa, 2014. Modern Exterior Ballistics: The Launch and Flight Dynamics of Symmetric Projectiles, ser. Schiffer military history. Schiffer Publishing, Limited, 2012.

SANTOS, R. C. D. Perito Balístico em criminalística forense. JusBrasil, 2016. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/perito-balistico-em-criminalista-forense/345947614. Acesso em 29/05/2024. 

Oliveira, G. F. Uso da balística forense na elucidação de crimes. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2016.














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