Decolonialidade no ensino de Física
- Maria E. Amonico e Greyci E. Proença
- há 2 horas
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O artigo intitulado Decolonialidade e ensino de Física: uma introdução, redigido por Katemari Rosa, professora adjunta na UFBA, traz à tona uma crítica à narrativa histórica monofacetada dos eventos que permearam o processo da construção do conhecimento científico até a atualidade. A escassez do diálogo acerca desta narrativa abrange a trajetória da ciência no Brasil e no mundo, e torna-se evidente, tendo em vista a interpretação e cosmogonia europeia como sendo a única apresentada acerca do que compreendemos como realidade e passado. Podendo ser percebida como uma visão binária, ou unilateral, acerca das vertentes do conhecimento científico atual. Utilizando o sentido da palavra binária como sendo a oposição de dois elementos antagônicos entre si (como ser ou não ser, ser isto ou ser aquilo) atrelado a regras e fatos que interessam apenas aos colonizadores, aqui no quesito da propagação histórica é o que se obtém como fruto da visão única concebida através do atrelamento dos europeus a originalidade, mérito e capacidade exclusiva inquestionável de conceber ciência, segundo o próprio pensamento e parâmetro.

Profa. Katemari Rosa.
(fonte: DUVANEL, 2020)
Categoricamente, estar familiarizado a conceitos que envolvem colonialismo, decolonialismo, pilhagem epistêmica e genocídio epistêmico são relevantes para a reflexão do que hoje é pertinente exercermos no ensino escolar. Reconhecer, investigar e legitimar concepções de mundo oriundas de culturas não europeias pode ser o primeiro passo rumo à dignidade histórica que os povos originários e escravizados merecem e, na qual foram violentamente excluídos. O colonialismo é descrito como sendo a destruição do meio natural dos povos originários e escravizados africanos, tanto geográfica, quanto cultural, política, psicológica, epistemológica e, ainda, ontológica pelos europeus. Há, portanto, uma dominação exercida pelos colonizadores que deslegitimam o valor humano dos povos aqui residentes e dos sequestrados. Ao mesmo tempo em que as barbáries escravistas cresciam, o mesmo se deu no âmbito científico, o que hoje são trabalhadas na escola, mas que desenvolveram-se “a partir de um marco epistemológico forjado no paradigma colonial”. Reconhecer a dinâmica que nos trouxe ao presente é considerar, também, a reflexão sobre o genocídio epistêmico e como podemos compreender as possibilidades plurais de pensar e produzir conhecimento, ainda que imersos nas cicatrizes coloniais.
O que é decolonial, então? Nesse sentido, é o processo histórico de desamarra do colonizador perante o colonizado. É onde ocorre a luta por mudanças para um novo contexto não mais subjugado pelo colonizador. A produção científica do século XV em diante, revela os “benefícios econômicos” do tráfico de pessoas no financiamento da produção científica efervescente da época, tendo seu pico mais alto entre 1750 e 1850, perpetuando, mais uma vez, os valores construídos na colonização. Para uma mudança efetiva, embates armados, mudanças na legislação e documentos oficiais, são necessários para a deslegitimação da monocultura eurocêntrica. Por último, a “continuidade de valores e práticas do colonialismo em tempos atuais, na democracia, é entendida como colonialidade” (ROSA, 2025, p. 4). O conceito de colonialidade, portanto, mostra a exploração, seguida do imperialismo econômico e cultural da Europa como uma forma de obter poder e que revela o desenvolvimento dos conceitos de modernidade e racionalidade forjadas sob o exercício da dominação das relações pessoais, econômicas e mundiais na política e produção de conhecimento. Pensar decolonialidade nos dias atuais é propor uma transformação da ordem social, que se coloca em prática resgatando possibilidades de existência no mundo que não tenha como referencial apenas uma vertente. Para isso, pôr em exercício o pensamento de que o que não segue o modelo europeu não é inferior, tanto no ensino da Física como nas demais áreas. Deixar aberta a visão sobre a diversidade das coisas é perpetuar a pluralidade das cosmovisões dos diversos povos do mundo.
Referências:
DUVANEL, T. Professora gaúcha Katemari Rosa coloca as discussões de gênero e raça no cerne da Física. O Globo, 15/03/2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/gente/professora-gaucha-katemari-rosa-coloca-as-discussoes-de-genero-raca-no-cerne-da-fisica-24300221. Acesso em 21/10/2025.
ROSA, Katemari. Decolonialidade e ensino de física: uma introdução. A Física na Escola, [S. l.], v. 23, n. Especial, p. e240257, 2025. DOI: 10.59727/fne.v23iEspecial.257. Disponível em:https://fisicanaescola.org.br/index.php/revista/article/view/257. Acesso em: 20 set. 2025.



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