História da Exploração Espacial: Conquistas, Riscos e o Futuro além da Terra
- Maria J. C. Mistura e Vitória F. Alves
- 28 de mai.
- 10 min de leitura
A história da exploração espacial é um dos maiores avanços tecnológicos da humanidade. Este fato nos possibilitou um conhecimento mais aprofundado sobre o Universo, impulsionando o avanço científico e originando diversas tecnologias que hoje fazem parte do nosso cotidiano. O ano de 1942, com a invenção das armas aéreas mortíferas que devastaram Londres na 2a Guerra Mundial, pode ser considerado o início da exploração espacial. Dessa forma, cobrimos aqui 83 anos de um rápido avanço do desenvolvimento das atividades espaciais em sete tópicos.
1. Origens da Exploração Espacial
Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1942, o engenheiro Wernher Magnus Maximilian von Braun projetou o primeiro míssil balístico, o Vergeltungswaffe 2, também chamado de V-2 (após a V1), como pode ser observado na figura 1. Este invento, que era um míssil na verdade, foi um grande marco, pois foi o primeiro foguete balístico de longo alcance e o primeiro objeto humano, na História, a atingir o espaço.
O V-2 foi utilizado como arma contra as cidades inimigas da Alemanha nazista. Com 14 metros de comprimento, 1,65 metro de diâmetro e pesando cerca de 12.500 kg, o V-2 era alimentado por uma mistura de etanol (75%) e água (25%), combinada com oxigênio líquido como oxidante. Seu sistema de propulsão permitia que ele atingisse velocidades de até 5.760 km/h, alcançando altitudes de até 206 km quando lançado verticalmente. A ogiva transportava cerca de 1.000 kg de explosivo Amatol, ativado por um detonador de impacto, e sua velocidade ao atingir o alvo era de aproximadamente 2.880 km/h, tornando-o devastador e praticamente impossível de ser interceptado na época.
O V-2 representou um avanço pioneiro na engenharia aeroespacial, sendo o precursor direto dos foguetes espaciais modernos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial os EUA e a URSS capturaram cientistas nazistas e a tecnologia utilizada na construção do foguete V-2. Os Estados Unidos precisaram do gênio do Mal, Werner Von Braun, para erigir sua tecnologia de foguete. Já os soviéticos dispunham de um gênio doméstico, Koroloyev, que seria o pai das naves Soyuz, duas décadas depois.
Figura 1 - Fotografia do Foguete V2 no Museu de Peenemünde

Fonte: Wikimedia Commons
2. Corrida Espacial: URSS x EUA
O período de 1947 a 1989 foi marcado pela Guerra Fria, um conflito geopolítico e ideológico entre os Estados Unidos e a URSS, onde uma das manifestações mais dramáticas deste conflito foi a corrida espacial: uma disputa tecnológica para dominar a exploração do espaço (baixa órbita inicialmente), levando inexoravelmente à criação do Sputnik.
Em 4 de outubro de 1957, a URSS lança o primeiro satélite artificial Sputnik 1 (figura 2). O Sputnik 1 tinha como principal objetivo demonstrar a capacidade tecnológica soviética de colocar um satélite em órbita da Terra. Ele é um grande marco pois delimitou o início da corrida espacial, além de testar o lançamento e a órbita de um satélite artificial e a URSS provar que conseguia colocar objetos em órbita. O Sputnik 1 mediu condições do espaço ao redor da Terra, como a densidade da atmosfera em alta altitude, e transmitiu sinais de rádio para a Terra.
Figura 2 - Uma réplica do Sputnik 1, armazenada no Museu Nacional do Ar e Espaço

Fonte: Wikimedia Commons
A URSS lançou o Sputnik 2 menos de um mês após o lançamento do Sputnik 1, o qual obteve um novo marco na corrida espacial: levar o primeiro ser vivo ao espaço, a cadela Laika (figura 3). O objetivo de levar um ser vivo ao espaço era estudar os efeitos da viagem espacial em um organismo vivo, incluindo aferir batimentos cardíacos, respiração e comportamento sob condições de ausência aparente de peso (erroneamente denominada de “microgravidade”). Devido ao superaquecimento e ao grande estresse que Laika sofreu, poucas horas após o lançamento, ela acabou falecendo.
Figura 3 - Fotografia da cadela Laika

Fonte: Wikimedia Commons
Em janeiro de 1958, o primeiro satélite artificial norte-americano, o Explorer 1, foi lançado pelos Estados Unidos. O satélite foi desenvolvido pela equipe do cientista Wernher von Braun (figura 4). Entrou em órbita com sucesso e teve uma contribuição científica muito importante: descobriu os Cinturões de Radiação de Van Allen, regiões de partículas carregadas aprisionadas pelo campo magnético da Terra.
Figura 4 - Fotografia dos criadores do Explorer 1 segurando um modelo dele em 1958

Fonte: Wikimedia Commons
Posteriormente, no mesmo ano, em julho, a NASA (National Aeronautics and Space Administration) foi fundada com o objetivo de coordenar todas as iniciativas civis dos EUA no espaço e impulsionar o avanço tecnológico frente à URSS.
3. Primeiros Seres Vivos e Humanos no Espaço
O primeiro primata superior a ir ao espaço foi um chimpanzé (Figura 5), de nome Ham (1956-1983) em janeiro de 1961. Ham foi lançado a bordo da cápsula Mercury-Redstone 2. Sua principal função era realizar testes para garantir que os humanos poderiam executar tarefas espaciais em um ambiente de ausência aparente de peso.
Figura 5 - Chimpanzé Ham em um sofá Biopack para o voo MR-2

Fonte: Wikimedia Commons
O sucesso da missão foi fundamental para validar a ideia de enviar humanos ao espaço. No mesmo ano, em 12 de abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin (Figura 6) tornou-se o primeiro homem a viajar ao espaço a bordo da nave Vostok 1. Ele completou uma órbita ao redor da Terra em cerca de 108 minutos.
Figura 6 - Fotografia do Cosmonauta Yuri Gagarin em 1961

Fonte: Wikimedia Commons
Ainda em 1961, Alan B. Shepard (figura 7) se tornou o primeiro note-americano no espaço durante um voo suborbital a bordo de sua cápsula Mercury, chamada Freedom 7, representando o início do programa espacial tripulado dos Estados Unidos, que culminaria em 1969 com a chegada do homem à Lua.
Figura 7 - Fotografia de Alan B. Shepard

Fonte: Wikimedia Commons
Dois anos depois, em 1963, em 16 de junho de 1963, Valentina Tereshkova (Figura 8) tornou-se a primeira mulher no espaço, passando mais de 71 horas em órbita a bordo da Vostok 6. A missão marcou um avanço histórico na exploração espacial e na participação feminina, inspirando gerações futuras. Na NASA havia o projeto “GEMINI Thirteen”, composto de treze mulheres destinadas a se tornarem astronautas. Elas se saíram melhores nos testes de resistência, de claustrofobia, e de acelerações e desacelerações. Porém, o programa dos astronautas norte-americanos era extremamente misógino e alguns deles disseram que "era melhor mandar macacos ao espaço que mulheres"… Lamentável!
Figura 8: Fotografia de Valentina Tereshkova, em 1963

Fonte: Wikimedia Commons
4. Missões Históricas
Em 18 de março de 1965, o cosmonauta soviético Alexei Leonov (Figura 9) realizou a primeira caminhada espacial da história (também chamada de EVA – Atividade Extra-Veicular). Ele saiu da nave Voskhod 2 e flutuou no espaço por cerca de 12 minutos, preso por um cabo de segurança.
Figura 9 - Alexei Leonov em 1967

Fonte: Wikimedia Commons
Os soviéticos ainda seriam os primeiros na construção de uma pequena estação espacial, a Salyut, e iniciaram o programa vencedor e que dura até hoje das naves Soyuz.
Em 21 de dezembro de 1968, a NASA lançou a Apollo 8, a primeira missão tripulada a deixar a órbita da Terra e orbitar a Lua (figura 10). A bordo estavam os astronautas Frank Borman, James Lovell e William Anders. Eles realizaram 10 voltas ao redor da Lua e retornaram à Terra em 27 de dezembro, após uma viagem histórica de seis
.
Figura 10 - Fotografia da Terra, tirada pelo Apollo 8

Fonte: Wikimedia Commons
Já em 20 de julho de 1969, a missão Apollo 11 entrou para a História como a primeira viagem tripulada a pousar na Lua. A tripulação era composta por três astronautas: Neil Armstrong, que foi o comandante da missão; Buzz Aldrin, piloto do módulo lunar; e Michael Collins, piloto do módulo de comando.
5. Avanços Pós-Apollo
Após o encerramento do programa Apollo, a exploração espacial continuou a avançar, marcando uma nova era de descobertas e inovações tecnológicas.
Em 1975, a União Soviética alcançou um feito importante com a missão Venera 9 (figura 11), que se tornou a primeira sonda a orbitar Vênus e transmitir imagens da superfície do planeta. Este marco foi fundamental para o estudo da atmosfera densa e da geologia, apesar das condições extremamente hostis encontradas ali.
Antes, os russos já tinham colocado um rover na Lua, o Lunakhod, sendo o primeiro laboratório sobre rodas a caminhar sobre a superfície de nosso satélite.
Figura 11 - Imagem da sonda espacial Venera 9

Fonte: Wikipédia
Tempos depois, em 1981 os Estados Unidos lançou o primeiro voo do ônibus espacial reutilizável, o Space Shuttle Columbia. A missão marcou o início de uma nova abordagem na exploração espacial, com veículos projetados para múltiplos usos, o que prometia reduzir custos das missões e ampliar o acesso ao espaço. O programa permitiu a construção e manutenção de estações espaciais, a realização de experimentos em microgravidade e o lançamento de satélites.
Os soviéticos construíram pouco tempo depois seu ônibus espacial, o Buran, com seu enorme foguete a combustível sólido, Energia. Infelizmente, apesar do sucesso de seu primeiro voo e infinitamente mais seguro que os ônibus espaciais estadunidenses, o projeto foi cancelado logo após a dissolução da URSS.
No entanto, nem todos os avanços vieram sem tragédias. Em 1986, o ônibus espacial Challenger (figura 12) explodiu logo após o lançamento, resultando na morte dos sete tripulantes. O desastre expôs falhas técnicas que levou a uma intensa revisão dos protocolos de segurança em missões tripuladas.
Figura 12 - Imagem do ônibus espacial Columbia.

Fonte: Wikipédia
6. Exploração Científica e Tecnológica
A partir da década de 1990, a exploração espacial ganhou um upgrade científico e tecnológico com o lançamento do Telescópio Espacial Hubble (Figura 13). Desenvolvido pela NASA, em parceria com a ESA (European Spatial Agency), o Hubble forneceu imagens extraordinárias do espaço, permitindo descobertas sobre a formação das galáxias, a expansão do Universo e a existência de exoplanetas (Figura 14).
Figura 13 - Imagem do telescópio Hubble.

Fonte: Wikipédia
Figura 14: Fotografia conhecida como "Hubble Ultra Deep Field".

Fonte: Wikipédia
Outro marco importante na exploração espacial ocorreu em 2004, com o primeiro voo espacial privado financiado por civis, realizado pela SpaceShipOne. Esse feito demonstrou que o setor privado poderia participar ativamente da corrida espacial, iniciando uma nova era de comercialização e turismo nessa área.
Seguindo essa tendência de inovação, em 2012 a NASA deu mais um passo importante ao enviar o rover Curiosity para Marte (lembrando que a URSS foi a primeira a tentar chegar em Marte décadas antes), com o objetivo de investigar se o planeta vermelho já teve condições de abrigar vida. O veículo analisou amostras de solos e rochas, estudou o clima e geologia do local.
Anos depois, em 2022 em uma parceria entre a NASA, ESA e CSA foi lançado o mais esperado telescópio espacial James Webb. Considerado o sucessor de Hubble, o James Webb é o telescópio mais avançado já enviado ao espaço. Suas primeiras imagens revelaram galáxias formadas poucos milhões de anos após o “suposto” Big Bang, fornecendo dados importantes sobre a origem do Universo e a formação de estrelas.
Figura 15 - O Telescópio Espacial James Webb, da NASA, capturou imagens em alta resolução no infravermelho próximo e médio do objeto Herbig-Haro 49/50 — um jato de matéria proveniente de uma estrela jovem ainda em formação, localizada no canto inferior direito da imagem.

Fonte: Webb Space Telescope
Figura 16 - Imagem registrada pelo Telescópio Espacial James Webb mostra milhares de galáxias brilhantes agrupadas pela força gravitacional, formando um grande aglomerado conhecido como MACS J1423.

Fonte: Webb Space Telescope
7. Futuro da Exploração Espacial
Durante o ano de 2024 a NASA desenvolveu o Programa Artemis, que tinha como objetivo levar novamente seres humanos à lua, mas dessa vez com um olhar voltado para inclusão e representatividade. A missão prevê que a primeira mulher e a primeira pessoa negra pisem em solo lunar.
Assim, o turismo espacial se tornou uma realidade, empresas como a Blue Origin, e a Virgin Galactic já realizaram voos suborbitais com civis. Embora ainda restritas apenas para pessoas com alto poder aquisitivo, essa atividade representa um grande passo para a exploração espacial.
Outro destaque em meio a esse cenário é a SpaceX, empresa privada fundada por Elon Musk em 2002. A SpaceX tem como missão reduzir os custos de lançamentos espaciais por meio de reutilização de foguetes, como o Falcon 9, e desenvolver tecnologias para possibilitar a colonização de Marte.
8. Conclusão
Embora os avanços na exploração espacial representem conquistas extraordinárias para a ciência e a humanidade, é importante reconhecer os impactos negativos envolvidos no processo. Ao longo dessa longa trajetória, inúmeros animais foram utilizados como cobaias em missões experimentais, muitas vezes sem chances de sobrevivência. Além disso, a perda de vidas humanas evidenciam a necessidade constante de revisar protocolos de segurança. Os EUA perderam 17 (dezessete) astronautas enquanto a URSS perdeu somente 04 (quatro)!
Outro problema é o acúmulo de lixo espacial, restos de satélites e foguetes orbitando a Terra, representando uma ameaça tanto para satélites ativos quanto para futuras missões tripuladas.
Infelizmente a quantidade de detritos espaciais tem-se tornado maior graças aos foguetes da Starlink do cocainômano e ex-adepto de Trump, Elon Musk. Este poluiu o firmamento de milhares e milhares de satélites Starlink, atrapalhando a observação astronômica realizada por grandes telescópios terrestres, além de detritos das inúmeras explosões de seu foguetão cheio de problemas (Superheavy).
Referências Bibliográficas
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