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Gabriel C. Sartori e Heitor J. F. Marchiori

Kepler e a Música Cósmica

Arte e Ciência nem sempre estiveram dissociadas. Na verdade, em tempos anteriores ao positivismo diversas áreas dos saberes estiveram intimamente interligadas. É possível constatar essa afirmação na vida e obra de antigos e notórios filósofos e cientistas. Grande parte deles era polímata, ou seja, produzia-se conhecimento em diferentes áreas, como Arquimedes, Aristóteles, Al-Biruni, Avicenna, Leonardo da Vinci e René Descartes.

Uma das áreas do conhecimento que reúne um conhecimento declaradamente inter e transdisciplinar é  a Música. Aparentemente, a música como sendo uma arte, não pretende ser explicada inteiramente por meios científicos, uma vez que possui variantes culturais e subjetivas.. Entretanto, é possível analisar uma parte do todo, e que, neste caso, pode ser a acústica. Existem evidências do estudo de acústica pelo filósofo grego Pitágoras, que buscou associar sons ao movimento de cordas vibrantes. O avanço desses estudos resultou na formulação das “oitavas” e da “escala diatônica”.



Figura 1 - Ilustração no livro Theorica Musicae (Fonte: FILHOAIS, 2020).

Johannes Kepler foi um astrônomo e matemático da antiga Alemanha (1571-1630). Deu novos rumos para a Astronomia com com a criação das três leis que regem os movimentos planetários e aos seus trabalhos de óptica, revolucionando as ideias de Copérnico (MOURÃO, 2003).

Com uma história familiar  complicada, Kepler enfrentou diversos problemas em sua vida: seu pai participava de campanhas mercenárias; sua mãe e avó materna precisaram se defender de acusações de bruxaria. Além disso, alguns de seus irmãos faleceram jovens devido a doenças e o próprio Kepler sofreu ao longo de sua vida com diferentes enfermidades. Ele teve 13 filhos, entretanto, alguns vieram a falecer nos primeiros anos de vida (MOURÃO, 2003).

Mesmo com uma vida conturbada, o que na verdade na época era mais regra do que uma exceção para todos os habitantes da Europa e, consequentemente, para os cientistas (exemplo Tycho Brahe e Galileu Galilei), Kepler conseguiu se destacar em outras áreas da Ciência além da Astronomia, como, por exemplo, na óptica, no  estudo de logaritmos e cálculo, além de ter sido pioneiro em cristalografia com seus estudos sobre cristais de vidro (MEDEIROS, 2002).

Como assistente de Tycho Brahe e, posteriormente, como seu sucessor e  administrador do Observatório de Uraniborg, Kepler possuía uma vasta quantidade de anotações muito precisas sobre as milhares de observações astronômicas realizadas por Tycho Brahe (COHEN, 1988). Esse arcabouço de dados observacionais possibilitou que ele pudesse aprimorar estes dados e elaborar um modelo mais adequado sobre a órbita dos planetas fora do padrão até então aceito (copernicano ou tychoniano).

Com estes recursos em mãos, coube a ele, além de aprimorar a coletânea de dados observacionais,  interpretar e formular possíveis novas explicações para o movimento dos astros no céu. Dessa mudança paradigmática, resultou o que hoje conhecemos como  as Leis de Kepler (as quais não serão expressas  aqui, pois foram descritas neste mesmo  site em publicação recente).



Figura 2 - Mysterium Cosmographicus (Fonte: https://archive.org/details/den-kbd-pil-22002200031E-001/page/n8/mode/2up?view=theater).

Kepler nos livros “Mysterium Cosmographicum” e “Harmonices Mundi” mostra como seria a relação entre a música e os movimentos planetários. Ele explica que cada planeta tem sua razão levando para a fonética ou diferença entre as frequências: os planetas mais próximos do sol  apresentariam frequências mais agudas e os distantes mais graves. Dessa forma, ele relaciona essas razões entre poliedros com faces regulares inscritos na esfera, estabelecendo uma harmonia geométrica e matemática nos corpos celestes.




Figura 3 - Música das Esferas (Fonte: FILHOAIS, 2020).



Referências


MOURÃO, R. R. F. A descoberta das leis do movimento planetário. Rio de Janeiro: Odysseus,  2003.

MEDEIROS, A. Entrevista com Kepler: do seu nascimento à descoberta das duas primeiras leis. Física na Escola, v. 3, n. 2, 2002.


COHEN, B. I. O Nascimento de uma Nova Física. Trad. M. A. Gomes da Costa. Lisboa: Gradiva, 1988.

FILHOAIS, C. Música e Ciência. Millenium, vol. 2, ed. 5, p.15-18, 2020.


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