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  • Gabriel C. Sartori, Maria J. C. Mistura e Muriel Y. Jorge

Leonardo da Vinci: Inovações à Frente de seu Tempo

Num contexto renascentista, na transição entre a Idade Média e a era Moderna, um gênio nasceu. Leonardo da Vinci nasceu em 1452 em um povoado de Anchiano na comuna de Vinci. Por essa razão, seu nome “Leonardo” foi associado ao seu lugar de origem: “de Vinci”, ou, em italiano “Leonardo da Vinci”. Num tempo de renascimento cultural, intelectual e artístico, Leonardo foi uma figura extremamente importante. Conhecido por suas magníficas pinturas como a “Mona Lisa”, “A Última Ceia”, “Dama com Arminho”, Leonardo não limitava-se somente à arte. Desenvolveu muitas ideias em diversas áreas, dentre elas: a ponte sustentada somente por seu peso (sem pregos ou cordas de amarração), a máquina Voadora e a bicicleta.

Ele era um polímata, atuando em dezenas e dezenas de áreas do conhecimento. Trabalhou como escultor, pintor, arquiteto, matemático, físico, naturalista, astrônomo, anatomista, mecânico, carpinteiro, músico, inventor, criador de moda, geógrafo/geólogo e cientista. Leonardo se mostra, pois, como uma exceção na história da ciência, registrando tudo em seus “Cadernos de Notas” ou Codigos (ex.: Atlântico, do Voo, Leicester, Windsor, Arundel, etc.). Apesar de tantos textos (estimados em mais de 7 mil páginas), seus manuscritos se mantiveram desconhecidos por aproximadamente quatrocentos anos, e assim, durante todo esse tempo ele foi majoritariamente conhecido somente por suas habilidades artísticas, o que era, naturalmente, somente a ponta de seu iceberg criativo.



Figura 1. Autorretrato de Leonardo da Vinci.


Um ponto muito interessante sobre como Leonardo produzia seus trabalhos é a form como ele escrevia. Diferente do usual modo de escrever da esquerda para direita, Leonardo escrevia da direita para esquerda, método conhecido como escrita espelhada, por necessitar de um espelho para ler. Embora muito seja muito discutido que era uma forma de esconder o que ele escrevia, da Vinci era canhoto, e ao escrever da esquerda para direita suas anotações ficavam manchadas, dessa forma a escrita espelhada foi a melhor adaptação para o gênio, preservando uma folha limpa, sem manchas. O deslocamento da mão se dava no sentido contrário do escorrimento da tinta de sua caneta em bico-de-pena.



Figura 2. Escrita espelhada. Fonte: autores, 2024.


O seu impacto na nossa civilização atinge várias áreas. Na área da Arte, aliado com seus estudos de Anatomia, pôde-se compreender como o corpo humano é e como funcionaria. Dessa forma, utilizou esse conhecimento para sua arte, estabelecendo um padrão de excelência e técnica nunca antes visto e até hoje estudado. Na área médica, seus trabalhos anatômicos serviram de base ao nosso conhecimento sobre o corpo humano de uma forma revolucionária pois a dissecação de corpos humanos teve seu pioneirismo com o gênio de Vinci.. O estudo do coração por exemplo, foi muito amplo de forma que ele descobriu a função das aurículas, demonstrando, de forma detalhada, além de descrever como é a divisão do coração – dois átrios, dois ventrículos – as fases de contração e relaxamento do músculo. Suas descobertas foram base para estudos posteriores e o conhecimento mais amplo que temos hoje em dia sobre a anatomia cardiovascular.

Muitos de seus projetos são reproduzidos atualmente e servem como inspiração, e fonte de conhecimento para desenvolver outros projetos. Mesmo que haja muitos protótipos que nunca ganharam vida fora do papel, toda sua construção é muito bem fundamentada nos princípios da Física, o que demonstra seu amplo conhecimento de Mecânica. Dentre muitas de suas invenções, podemos citar o protótipo de um helicóptero, o qual, como os helicópteros modernos, funcionava baseado em compressão da necessidade do ar para voar. Hoje em dia, podemos observar a semelhança existente com o primeiro objeto a voar em Marte, o “Ingenuity”.




Figura 3. Helicóptero por Leonardo da Vinci.    


    



           Figura 4. Helicóptero “Ingenuity”. Fonte: NASA, 2021.



 Máquina voadora de Leonardo da Vinci:


Podendo ser considerado o começo da história do voo, a máquina voadora idealizada por Leonardo foi desenvolvida somente por volta de 1845, mais de trezentos anos após sua morte. Leonardo fez uma pesquisa extensiva sobre a mecânica do voo e sobre o voo dos pássaros, de modo que em seus Codex é encontrado pontos sobre a densidade do ar, a gravidade, a oscilação, além de conceitos sobre balanço e força. Com sua produção sendo superior a trinta e cinco mil palavras, Leonardo produziu seu Codex “Voo dos pássaros” – do italiano “Volo degli uccelli”, onde ele apresenta seus estudos da mecânica do voo dos pássaros entre outras questões relacionadas. Desses estudos, especialmente sobre a estrutura das asas, nascem ideias, inclusive, para a construção de pontos estaiadas (penseis, equilibradas, hoje, por cabos de aço).




Figura 5. Codex Voo dos Pássaros.


  Se observarmos a máquina voadora fica claro que se assemelha muito a um pássaro. Isso se deve porque Leonardo entendia que para que os humanos pudessem voar do mesmo jeito que um pássaro ele precisava entender detalhadamente como esses animais voavam, para, somente então, transferir esse conhecimento para o voo mecânico. Ele, portanto,  debruçou-se em estudos cada vez mais aprofundados sobre a anatomia das asas das aves, focando especialmente na capacidade que estas possuem de se adaptar a diversas correntes de ar. Muitos de seus projetos aeronáuticos eram máquinas que pareciam muito com pássaros, porque utilizavam duas asas as quais davam a propulsão e suporte. Nesse aspecto, para a máquina voar era necessário a total dependência de seu piloto para a propulsão e levantá-la.




Figura 6. Esboço da Máquina de Voar de Leonardo da Vinci. 


Por meio de seus estudos e observações, Leonardo pode chegar à conclusão que o vento que sopra na parede transfere um pouco de sua energia em movimento para o pássaro, mas, em sua essência, não é significativamente influenciado pela sua interação. Durante o voo planado efetivo, a maior parte ou toda a energia cinética adquirida pelo pássaro é dissipada devido às forças de resistência do ar, resultando em um voo que consome energia de forma neutra. O desempenho do dispositivo estava sujeito à habilidade do piloto, que precisava posicionar-se no centro. Através de mecanismos de pedais e alavancas, o piloto giraria manualmente a máquina até conseguir decolar do solo. Uma vez no ar, as asas seriam movimentadas mecanicamente, imitando o movimento dos pássaros. O voo dessa forma era impossível, mas outras máquinas como o planador e o seu imenso paraquedas eram factíveis como foi demonstrado na produção de um documentário da BBC de Londres, em 2003.

A invenção mais conhecida de Leonardo é sua ponte, provavelmente pela facilidade de reprodução em micro e macro escala. Pode ser construída udando desde palitos de picolés (ou até objetos menores) até troncos de árvore. Sua organização é simples, não precisando de nenhum prego ou corda, sendo composta apenas por um arranjo entre os pedaços de madeira sustentado por seu proprio peso. O entrelace da estrutura permite que o peso que estiver sobre a ponte seja distribuído por todos os pedaços de madeira. A recente exposição O GÊNIO DE LEONARDO DA VINCI, que foi do dia 05 de fevereiro à 02 de março (e será reproposta de 15 de julho a 31 de agosto), na BCE-UEM, demonstrou essa versatilidade estrutural com visitantes sendo convidados a construí-la inúmeras vezes.

Já o primeiro projeto de bicicleta de que se tem conhecimento data de, aproximadamente, 1490. Mas a primeira bicicleta só foi efetivamente construída mais de 300 anos depois. O projeto original de Leonardo conta com sistemas de pedais, rodas com raio de madeira, transmissão por corrente e roda dentada. O esboço é encontrado no livro “Codex Atlanticus”, uma coletânea de documentos e projetos de da Vinci, conhecido também como o “Código das Máquinas”.

O celerífero, uma espécie de bicicleta, foi construído pela primeira vez em 1790, pelo Conde de Sivrac, constituída de duas rodas de madeira ligadas por uma viga para se sentar, porém, sem um sistema de direção ainda, não pode ser considerada efetivamente uma bicicleta. Já em 1817, foi construída a primeira bicicleta, pelo Barão Karl von Drais, dispondo da adição de um sistema de direção ao celerífero, criando a draisiana

Os principais museus que focam o gênio de Leonardo da Vinci são: Da Vinci Florence Museum, Museo Leonardo da Vinci Experience, Leonardo Interactive Museum, Leonardo3 Museum, entre outros. Todos os museus citados contam com exposições originais e aplicações de invenções desenhadas por da Vinci.

As obras de Leonardo da Vinci são e sempre serão consideradas inovadoras, não só para a sua época, mas para a história humana também. Seu intelecto, criatividade e imaginação são atemporais, e ao recriar suas idéias, o público consegue ter uma idéia de quão fantásticas e futuristas eram suas invenções. Leonardo da Vinci segue inspirando inúmeras pessoas com sua arte, ciência, ou seja, a essência do Renascimento, mesmo depois de 500 anos. Por essa razão é tão importante sua representação em museus, universidades e escolas.

Sem dúvida foi um homem à frente de seu tempo, tendo em vista a demora que a humanidade teve em construir seus projetos. Muitos deles poderiam ter sido construídos enquanto ele ainda estava vivo. Entretanto, a falta de financiamento acabou afetando a produção. Este detalhe do orçamento foi um dos motivadores que fizeram com que da Vinci projetasse várias máquinas de guerra, principalmente com sua mudança de Florença para Milão.

Outro fator interessante de analisar no período histórico do Renascimento é a intensa proximidade entre Arte e Ciência. Isso se deve ao fato de que praticamente todo artista era um pouco inventor e muito polímata. Vale lembrar que não existia a divisão positivista entre cada área da ciência. Portanto, as ciências (como dividimos hoje) se mesclavam de forma harmônica. É possível notar isso nas noções de perspectiva na obra de Leonardo “A Última Ceia”. 

Já na obra de Ludovico “Cigoli” Cardi na cúpula da Catedral de “Santa Maria Maggiore” presente na capela Paolina, em Roma, existe a  figura religiosa de Maria em ascenção apoiada sob uma lua craterada, demonstrando um conhecimento adquirido por meio de uma troca de conhecimento entre Cigoli e Galileo que acabara de observar as irregularidade na superfície lunar. Dessa forma, é possível compreender como Arte e Ciência andavam de mãos dadas neste período.

Não deixem de visitar a 2a edição da Grande Exposição O GÊNIO DE LEONARDO DA VINCI, entre os dias 15 de julho e 31 de agosto do corrente ano, preparada pelos alunos do PET-FÍSICA e do curso de ARTES VISUAIS com a curadoria dos Professores Marcos Cesar Danhoni Neves e Josie Agatha Parrilha da Silva.



Referências

[1] SILVA, J.A.P.; NEVES, M.C.D. O Codex Cigoli-Galileo: Ciência, Arte e Religião num enigma copernicano. Maringá, EDUEM, 2015.

[2] OLIVEIRA, A.  J. A obra científica de Leonardo da Vinci: Controvérsias na historiografia da ciência. TransFormAção, v. 39, p. 53-86, 2016.

[3] STANLEY, D. Leonardo Da Vinci. New York: Morrow Junior Books, 1996.

[4] ARENAS, N.; BOZO, E. Impacto renancentista en las artes, en la anatomia, en la medicina y en la enfermería. Salus, v. 13, n. 1, p. 50-56, 2009.

[5] NASA Science. Mars Helicopter Tech Demo. Disponível em < https://mars.nasa.gov/technology/helicopter/# > Acesso em 28/02/2024

[6] BBC. Leonardo da Vinci (video documentário em dois capítulos).Londres:Estúdios da BBC, 2003.


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