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O ano mais frio dos próximos anos.

  • Pietro Giuseppe Cargnin Ferreira e Pedro Henrique Medeiros Montalban
  • 13 de dez. de 2023
  • 4 min de leitura

Fonte: Surasak Suwanmake (Getty Images).


Aquecimento global é o efeito do aumento da temperatura média dos oceanos e do ar próximo a Terra, seja por interferência humana ou não, que leva a diversas consequências diretas no ecossistema terrestre, já que desbalanceia o equilíbrio no planeta. Esse aumento da temperatura geralmente é associado ao efeito estufa, um fenômeno natural e essencial para a vida na Terra em que uma camada de gases - principalmente gás carbônico, metano, óxido nitroso e vapor de água - atua para reter parte do calor emitido pelo sol e impedir que esse se dissipe no espaço. O problema é que, com o aumento na emissão de gases causadores do efeito estufa (GEEs), esse efeito se agrava e resulta em um aquecimento maior dos oceanos e da atmosfera terrestre. 

As consequências do aquecimento global são muitas, por interferir com um sistema tão grande e complexo como o de um planeta inteiro, mas entre elas as mais notáveis são o aumento do nível do mar, causado pelo derretimento das calotas polares, e o agravamento de diversos eventos climáticos, gerando ocorrências extremas de maior intensidade e frequência, como já começa a ser observado nos últimos anos. 

Além disso, esse fenômeno também marca presença por meio de outros acontecimentos anormais: neste ano, por exemplo, o mês de julho bateu recordes com temperaturas altíssimas e se registrou como o mês mais quente da história. Apesar de ser inverno para o hemisfério Sul, o mês de julho em geral tende a apresentar as maiores temperaturas médias do ano pois no hemisfério Norte, em que é verão, grande parte do território é terrestre e sofre um impacto maior das temperaturas do que nos oceanos que preenchem o hemisfério Sul. A água age como regulador de temperatura, então as temperaturas frias do hemisfério Sul não são o bastante para abalar a média global. Entretanto, apesar de ser naturalmente mais quente, no dia 31 de julho de 2023 observou-se surpreendentes 20,96ºC como a temperatura média global, sendo esse o dia mais quente registrado no planeta desde 1940.


Colobanthus quitensis na Geórgia do Sul

Fonte: Liam Quinn (Flicker) - 19/01/2011


Além disso, em março de 2022, cientistas da Universidade de Washington (UW) registraram uma onda de calor que atingiu uma temperatura de 39°C acima da média da Antártica, chegando ao pico de -10°C. As consideráveis mudanças climáticas já demonstraram diversas alterações nas plantas e musgos do continente, que estão cada vez mais se espalhando em alta velocidade. Além disso, os padrões de vegetação também foram alterados: antes majoritariamente coberto de gelo e neve, com apenas algumas áreas onde poderiam surgir flores, como a pera-da-antártica (Colobanthus quitensis), o continente teve um aumento nas áreas de crescimento das plantas em 20%.

Outro impacto do aquecimento global que estamos vivenciando hoje é a ocorrência de ondas de calor que vem atingindo o Brasil nessas últimas semanas. Esse calor tão absurdo - sem sequer estar na estação mais quente do ano  -  levou à maior temperatura já registrada no Brasil, com 44.8ºC na cidade de Araçuaí - MG no dia 19/11/2023. Além disso, um caso que ganhou muita repercussão nas últimas semanas envolveu o show realizado pela cantora Taylor Swift no Rio de Janeiro no dia 18 de novembro. Com a cidade enfrentando temperaturas altíssimas e diversos fãs se dirigindo para o evento horas antes formando filas e esperando no sol, muitos começaram a passar mal e desmaiar com o calor extremo. A situação só piorou após a entrada no show, já que o estádio Nilton Santos, onde ele foi realizado, teve grande parte das suas saídas de ar bloqueadas, além da organização impedindo a entrada do público com água e cobrando preços absurdos dentro do evento. A noite culminou em centenas de fãs relatando terem desmaiado, passado mal ou se queimado nas placas de metal distribuídas no chão de alguns setores do público.

Dessa forma, visto o perigo e impacto dessas ondas de calor, é importante notar que elas são resultado de um evento comum conhecido como domo de calor, em que uma área de alta pressão atmosférica age para reter calor em uma determinada região que esse “domo” cobre. Ainda, o “El Niño”, famoso evento na América do Sul responsável por aumentar as temperaturas dos oceanos, também pode colaborar com essas altas temperaturas. 

Entretanto, um estudo feito pela World Weather Attribution (WWA) demonstrou que as ondas de calor assolando a América do Sul nas últimas semanas, bem como as temperaturas altas observadas em alguns países do hemisfério Norte, podem sim ser diretamente ligadas ao aquecimento global. Logo, a ação humana nesse efeito não só aumentou em diversas vezes a probabilidade de ocorrência das ondas de calor, mas também intensificou esse efeito e colaborou com temperaturas ainda maiores.

Portanto, é de extrema importância ressaltar que os tempos mudaram e que estamos em uma nova era em que a ameaça do aquecimento global torna-se cada dia mais realidade, e deve começar a ser tratada como tal.




Referências:


[1] PAJOLLA, M. Ondas de calor no Brasil foram causadas por interferência humana no clima, revela estudo. Brasil de Fato, 13-out-2023. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2023/10/13/ondas-de-calor-no-brasil-foram-causadas-por-interferencia-humana-no-clima-revela-estudo. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.


[2] BRONZE, G.; Braga, G. e Cerne, L. Ondas de calor serão mais comuns? Especialistas explicam. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/ondas-de-calor-serao-mais-comuns-especialistas-explicam/. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.



[3] . METSUL. Primavera de calor extremo é sinal de verão ainda mais quente no Brasil? Metsul.com. Disponível em: https://metsul.com/primavera-de-calor-extremo-e-sinal-de-verao-ainda-mais-quente-no-brasil/. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.



[4] BIENARTH, A. O que é o ‘domo de calor’, fenômeno por trás dos recordes de temperatura no Brasil. G1, 16-nov-2023. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2023/11/16/o-que-e-o-domo-de-calor-fenomeno-por-tras-dos-recordes-de-temperatura-no-brasil.ghtml. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.


[5] WWF. Saiba mais sobre Mudanças Climáticas. World Wide Fund. Disponível em: https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/clima/mudancas_climaticas2/. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.


[6] PIVETTA, M. Julho foi o mês mais quente da história recente e quebrou recordes de temperaturas. Fapesp.br. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/julho-foi-o-mes-mais-quente-da-historia-recente-e-quebrou-recordes-de-temperaturas/. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.


[7] PADDISON, L. Julho é o mês mais quente registrado nos últimos 120 mil anos do planeta Terra, diz relatório. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/julho-e-o-mes-mais-quente-registrado-nos-ultimos-120-mil-anos-do-planeta-terra-diz-relatorio/. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.


[8] PAOLA, B. Com El Niño mais forte, Brasil deverá enfrentar novos episódios de ondas de calor no verão.  Meteored. Disponível em: https://www.tempo.com/noticias/previsao/com-el-nino-mais-forte-brasil-devera-enfrentar-novos-episodios-de-ondas-de-calor-no-verao.html. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.


[9] PATEL, K. Scientist found the most intense heat wave ever recorded - in Antarctica. Washington Post. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/climate-environment/2023/09/23/antarctica-heat-wave-record/. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.



Imagem 1 - Disponível em: https://exame.com/negocios/efeito-estufa-evita-lo/. Acesso em: 4 de dezembro de 2023. 

Imagem 2 - Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Colobanthus_quitensis#/media/Ficheiro:Antarctic_Pearlwort.jpg. Acesso em: 4 de dezembro de 2023.


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