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  • Luiz G. Nunes da Silva e Maria E. Monico Timoteo Silva

Pré investigações do átomo e de sua natureza


Figura 1 - Caricatura de Leucipo e Demócrito (fonte: NUNES).




Havia uma grande discussão no século 5 a.e.C. a respeito do vazio. Os defensores da não existência do vazio faziam parte da escola eleática, onde Parmênides foi o seu fundador defendendo que:


“Ou uma coisa é, ou não é. Se é, não pode vir a ser, porque já é. Se não

é, também não pode vir a ser, porque do nada não se tira nada. Se o

não-ser fosse alguma coisa, teríamos a contradição de alguma coisa que,

ao mesmo tempo é e não é.”


A partir das discussões a respeito do vazio é que começaram a se desenvolver o pensamento sobre o que é o vazio e o que nele pode existir. Leucipo (500 a.e.C. - 420 a.e.C.), que mais tarde foi seguido pelo grande filósofo Demócrito, afirmava que não poderia haver movimento se não houvesse o vazio, e concluiu que era falso identificar o vazio como não-existente.

Nesse contexto, o movimento atomista começou a se desenvolver. Segundo Aristóteles, o atomismo teve seu início devido à negação dos Eleatas ao vazio. A concepção materialista do Universo vem, então, de uma ideia de vazio real, onde nele próprio estariam se movimentando uma infinidade de “figuras” invisíveis, indivisíveis, móveis por si só que mais tarde seriam chamados de átomos.

Outro filósofo importante nessa discussão foi Parmênides (515 a.e.C - 450 a.e.C.) que afirmava: “Tudo o que existe é. Ele tem a propriedade de ‘ser’, porque ‘existe’. Isto está em contraste com a não ser ou ‘não-causalidade’ (nada). Se nada existe, então ele ‘é’, e se ‘é’, então ele não pode ser e “não ser” ao mesmo tempo”.

Em relação a natureza da ideia inicial do átomo, para Demócrito de Abdera eles eram todos feitos da mesma substância, tendo tamanhos, formas, movimentos e arranjos geométricos diferentes, o que explicaria a diversidade das coisas. Demócrito tinha em mente a crença de que o pensamento é um movimento, e se é um movimento, logo existe, e se existe o pensamento é real. Diante desse pensamento, ele acreditava que a alma deveria ser feita da matéria mais móvel, ou de átomos de fogo sutis, lisos e arredondados. Essas partículas estariam espalhadas por todo corpo, onde os átomos corporais se intercalam com os átomos de alma que se movem perpetuamente. Durante a expiração, esses átomos de fogo são soltos pelo ar, e com a inspiração novos átomos são trazidos ao corpo. Quando a respiração cessa, o fogo interior escapa e disso resulta a morte.

Para Demócrito, há duas formas de conhecer: uma pelos órgãos do sentido (conhecimento obscuro), que por vezes trazia certo conhecimento, mas que também pode enganar, e outra pela razão (conhecimento genuíno), que deixa de lado os sentidos e leva em conta o pensamento como principal agente. Com isso, ele concluiu que “por convenção existe o doce e o amargo, o quente e o frio, por convenção existe a cor; na realidade, porém, só existem átomos e vazio [...]”.

Epicuro de Samos (341 a.e.C. - 270 a.e.C.) diverge de Demócrito ao afirmar que os átomos têm peso, que seria uma pressão exercida de cima para baixo exercida pela matéria. Nesse sentido, os epicuristas podiam explicar porque algumas coisas pesam mais que outras, mesmo com as dimensões iguais. Ele explicava que como o vazio não tem peso, o que é mais leve possui mais espaço e menos matéria em seu interior, bem como os mais pesados possuem mais matéria e menos espaço vazio internamente.

Tito Lucrécio Caro (99 a.e.C. - 55 a.e.C.), seguidor de Epicuro, atacava as superstições e crenças que impediam o ser humano de experienciar a felicidade que o epicurismo defendia. Como seguidor de Epicuro, Lucrécio também afirmava a materialidade da alma, formada por átomos sutis, etéreos, ágeis e mais frágeis que os átomos que constituem os corpos materiais. Como continuidade deste pensamento, Lucrécio criticava veementemente crenças e superstições, que na visão dele impedia o ser humano de experienciar a felicidade epicurista. Além disso, também defendia um pensamento materialista a respeito da realidade, e que se a alma é feita de átomos e que se a morte do corpo, significa a dispersão dos átomos que o constituem, então a morte significaria o fim da alma também.

Dando um salto na História, o Renascimento (XIV-XVI) veio principalmente com a busca pela autonomia nas investigações filosóficas, e nesse período os humanistas voltaram à tona com os pensamentos atomistas de Demócrito e Epicuro. Os humanistas também resgataram a concepção filosófica mecanicista, que em sua primeira fase foi caracterizada por explicar os fenômenos de ações a distância entre os átomos de matéria.

O cientista Robert Boyle (1627-1691), que também se mostrava um partidário do atomismo quando desenvolveu estudos em Física, refutou a teoria de Aristóteles sobre os quatro elementos, consagrou a lei dos gases, aperfeiçoou o termômetro de Galileu e elaborou a noção de elemento químico. Para ele, no universo existe uma gama de corpúsculos relacionados com outros, e que faz surgir na matéria ‘acidentes ou eventos’ que ele chama de Postura (vertical, horizontal, inclinado etc.), além da maneira que estão dispostos (na frente ou atrás de outro) chamado de Ordem. O rearranjo dos corpúsculos devido seus ‘acidentes’, combinando a Postura e Ordem é chamado de textura. Essa textura é responsável pela ação de um pedaço de matéria em outro, e que nesse processo a matéria adquire novas características que não estariam nos corpúsculos iniciais, podendo sofrer diversos rearranjos. Derivado desse pensamento é que Boyle afirma que todos os corpos são compostos por junções de corpúsculos, e que na interação com outros agregados de corpúsculos adquirem novas qualidades ou poderes.

Em uma experiência, Boyle colocou o barômetro de Torricelli em um compartimento fechado, conectado a uma bomba de vácuo. Assim que extraiu o ar do interior, ele percebeu que a altura da coluna de mercúrio diminui até se igualar ao nível de mercúrio do reservatório. Quando adicionou ar ao compartimento, houve uma elevação no nível do mercúrio. Esse experimento refutou a ideia de que a natureza tem horror ao vazio, como defendia Aristóteles, e exclui a hipótese de ser o próprio vazio da parte superior do tubo, na sua “ânsia” de ser preenchido, a causa da elevação do líquido no barômetro.





Figura 2 - barômetro de mercúrio (fonte: MARTINS)



REFERÊNCIAS


[1] NUNES, P. Modelos atômicos. disponível em: http://pedronunesquimica.com.br/imgs/ResumoModelosAtomicosPedroNunes.pdf. Acesso em: 27 set 2023.


[2] MARTINS, G. Experimento de Torricelli. PiR2, 2021. Disponível em: https://pir2.forumeiros.com/t177373-experimento-de-torricelli. Acesso em: 27 set 2023.


[3] BERRYMAN, S. Ancient Atomism. Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2022. Disponível em: https://plato.stanford.edu/entries/atomism-ancient/#:~:text=Ancient%20Greek%20atomists%20developed%20a,interlock%20in%20an%20infinite%20void.

Acesso em: 27 set 2023.


[4] KONSTAN, D. Atomism. In: Oxford Handbook of Epicurus and Epicureanism. Oxford Academic. p .59-80. 2020.





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