TELESCÓPIO JAMES WEBB: UM MARCO DA ASTRONOMIA CONTEMPORÂNEA
- Geovana N. Vicente e Heitor J. F. Marchiori
- há 9 horas
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Em dezembro de 2021, um instrumento revolucionário foi lançado ao espaço: o Telescópio Espacial James Webb (James Webb Space Telescope - JWST). De acordo com a NASA (National Aeronautics and Space Administration - Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço), ele possui um imenso espelho de 6,5 metros e tecnologia infravermelha de ponta, e não apenas substituiu o telescópio Hubble, mas redefiniu os limites da Astronomia. Desde suas primeiras imagens, divulgadas em julho de 2022, o telescópio já impressionava com detalhes que eram antes considerados invisíveis. Diferente de qualquer outro telescópio, o James Webb consegue sondar os confins do Universo com uma precisão nunca antes alcançada. O Telescópio foi capaz de ampliar os limites da nossa observação astronômica, além de reacender debates profundos sobre a origem (ou não) e a natureza do universo.
Figura 1: Telescópio James Webb e Telescópio Hubble comparados

Fonte: NASA e BBC
De acordo com Jaziel G. Coelho, em seu artigo “O Telescópio Espacial James Webb - uma nova era na Astronomia”, o telescópio foi equipado com quatro instrumentos científicos principais, e observa faixas de luz que vão de 0,6 a 28 mícrons, revelando estrelas em nascimento, exoplanetas distantes, buracos negros ativos e até pistas sobre a matéria escura (se ela existir …) e a possível origem da vida.
Figura 2: Telescópio Espacial James Webb em uma sala limpa da NASA durante sua fase final de montagem e testes

Fonte: NASA
Durante muito tempo, os cientistas acreditaram que o Universo teve um começo: o Estrondão, Big Bang. A partir daí, o Universo teria começado a se expandir e a formar estrelas, galáxias e planetas. No entanto, nem todos os cientistas concordam com esse paradigma. Nos últimos anos, novas imagens feitas pelo Telescópio Espacial James Webb mostraram galáxias muito antigas e desenvolvidas em momentos em que, segundo a teoria do Big Bang, elas ainda não deveriam existir, pois seria ainda a era da radiação, sem matéria formada. Isso fez com que alguns pesquisadores voltassem a considerar ideias antigas, como a de que o universo pode ser infinito e eterno — ou seja, que ele sempre existiu e está em constante transformação, e essa tensão entre observação e teoria não é nova.
Filósofos como Giordano Bruno e Thomas Digges, já no século XVI, falavam de um Universo infinito, eterno, sem início nem fim. Na época, essas ideias pareciam ateias, mas hoje voltam a ganhar força, impulsionadas por dados que não se encaixam no modelo tradicional. As imagens do Telescópio James Webb, que mostram milhares de galáxias espalhadas por todo o universo, sugerem que o ele pode não ter surgido de um ponto único, mas sempre ter existido em permanente transformação.
Figura 3: Aglomerado de galáxias SMACS 0723. A imagem foi captada pelo Telescópio James Webb

Fonte: NASA, ESA, CSA e STScI
Consoante a esse pensamento, o artigo “Imagens, anomalias e revoluções: Farewell to Big Bang”, dos pesquisadores Marcos Cesar Danhoni Neves e Josie Agatha Parrilha da Silva, discute justamente esse ponto. Os autores mostram como a ciência, ao se apegar a padrões consolidados, muitas vezes descarta dados que poderiam levar a interpretações mais profundas. Os autores citam os epistemólogos Thomas Kuhn e Paul Feyerabend para lembrar que o progresso científico não é linear nem puramente lógico. Muitas vezes, o que é considerado verdade absoluta é apenas a verdade aceita por uma comunidade em determinado momento. O paradigma do Big Bang, por mais dominante que seja, certamente não é a verdade absoluta. Nesse falso preâmbulo, cairiam muitos, inclusive os ptolomaicos, os newtonianistas, os …
Figura 4: Quinteto de Stephan. A imagem foi captada pelo Telescópio James Webb

Fonte: NASA, ESA, CSA e STScI
Dessa maneira, ao observar o Universo cada vez mais profundamente, telescópios como o James Webb colocam a comunidade científica diante de uma nova fronteira do pensamento. O Telescópio é fruto de uma colaboração internacional entre EUA, Europa e Canadá, e pode ser considerado como uma missão para desvendar os segredos cósmicos. Nas próximas décadas, ele poderá transformar a forma como entendemos o cosmos, trazendo inúmeras informações que poderão ser capazes de romper paradigmas. Semana passada encontrou bioassinaturas num planeta a 120 anos-luz da Terra.
Contudo, o paradigma do Big Bang não é totalmente descartado com tais observações do telescópio James Webb, pois frente a esse desacordo relacionado à idade, indica que, talvez, seja necessário reavaliar o modelo cosmológico padrão, ou então reconsiderar as teorias e observações atuais sobre a evolução das estrelas e das galáxias. Curiosamente, essa é uma conclusão semelhante à de Edwin Hubble [Freedman, 1994]. Assim pode-se encaixar a questão que cerca a Física Contemporânea “NÃO HÁ NADA MAIS A SE DESCOBRIR?”. esta mesma questão tinha sido posta aos físicos do séc. XIX, que acreditavam que toda a Física tinha sido inventada por Newton. Ledo engano: 30 anos depois a Revolução Relativista e Quântica estava consolidada. Depois do JWST necessitamos de mais Revoluções!
REFERÊNCIAS:
COELHO, Jaziel Goulart. O Telescópio Espacial James Webb - uma nova era na Astronomia. Cadernos de Astronomia, v. 3, n. 2, p. 112–121, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/astronomia/article/view/38762. Acesso em: 11 abr. 2025.
FREEDMAN, W.L., Distance to the Virgo Cluster Galaxy M100 from Hubble Space Telescope Observations of Cepheids. Nature, 1994.
NEVES, Marcos Cesar Danhoni; SILVA, Josie Agatha Parrilha da. Imagens, anomalias e revoluções: farewell to Big Bang. Problemata: Revista Internacional de Filosofia, v. 14, n. 4, p. 143–161, 2023. DOI: 10.7443/problemata.v14i4.66085. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/ejemplar/403192. Acesso em: 11 abr. 2025.
MEYERS, Randall (Dir.). The Cosmology Quest – Episode 1. [S.l.]: Lightscape Media, 2004. 1 vídeo (59min). Disponível em: https://youtu.be/jOQFLOukrxM. Acesso em: 11 abr. 2025.
MEYERS, Randall (Dir.). The Cosmology Quest – Episode 2. [S.l.]: Lightscape Media, 2004. 1 vídeo (54min). Disponível em: https://youtu.be/V4BPxQMUaAM. Acesso em: 11 abr. 2025.
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