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Ótica, Física e o ilusionismo

  • Foto do escritor: PETFísica Uem
    PETFísica Uem
  • 23 de jun.
  • 6 min de leitura

A ótica é a área da Física que estuda os fenômenos relacionados à luz. Podemos observar a ótica física em nosso cotidiano: espelhos, lentes de óculos e câmeras fotográficas, leitores de códigos de barras e até mesmo na observação do arco-íris, um fenômeno natural. Porém, um de seus fenômenos mais curiosos é aquele que é muito utilizado pelos “mágicos”: a ilusão de ótica. 


A ilusão de ótica é um fenômeno visual que engana a visão humana: ela faz com que vejamos algo que não está realmente presente ou que nos faz ver de forma “equivocada”. Isso ocorre, pois o cérebro humano necessita da utilização de experiências anteriores e conhecimentos prévios para interpretar o que vê, e isso, por vezes preenche, esta lacuna, levando à uma percepção distorcida da realidade. Essa interpretação equivocada do que é visto/descrito é chamada de “ilusão de ótica”. Dessa forma, a imagem de um objeto transmitida da visão para o cérebro é decodificada e interpretada, mas em certas condições tal interpretação pode ser errônea devido à dificuldade do cérebro em comparar ângulos, distâncias e comprimentos.


A neurobiologia explica que nosso cérebro não consegue prestar atenção em tudo o que os nossos sentidos captam. É devido a isso que a atenção funciona como um filtro: escolhe algumas informações para analisar a fundo e “ignora” o resto. Tal processo de escolher, organizar e entender o que é sentido chama-se “percepção”. No caso da visão, os olhos captam a luz através de células especiais na retina, chamadas “fotorreceptores”. Depois disso, o cérebro junta as imagens dos dois olhos e interpreta o que está sendo visto, comparando com coisas já vistas antes. Então, por vezes, a percepção engana e é visto algo diferente da realidade: isso é uma ilusão, e pode ter sido útil na evolução dos nossos ancestrais para reagirem rápido ao ambiente.


Os tipos de ilusão de ótica são: literal, cognitivo e fisiológico. A ilusão de ótica literal ocorre quando dois objetos de uma imagem se juntam formando um terceiro objeto. 


Figura 1 - “The Sun Sets Sail”, do ilustrador canadense Roberto Gonsalves (1959 – 2017)

Fonte: Arteref


Por sua vez, a ilusão de ótica cognitiva ocorre pela distorção de um conhecimento ou percepção concebida pelo observador. Existem quatro tipos de ilusão cognitiva: a paradoxal, a ficcional, a ambígua e a geométrica-ótica. A paradoxal cria imagens de objetos impossíveis ou paradoxais, que desafiam a lógica e a percepção visual, deixando nosso cérebro confuso e incapaz de entender o que está realmente acontecendo na imagem. Já a ficcional é um tipo de ilusão de ótica que causa uma espécie de alucinação, fazendo com que a pessoa acredite que há algo presente na imagem, mas que, na verdade, não está lá.


A ilusão ambígua ocorre quando existe a presença de mais de uma interpretação possível para uma imagem. A percepção do observador pode mudar dependendo de como ele olha para a imagem. Por sua vez, na geométrica-ótica ocorrem distorções no comprimento, na curvatura, no formato e no tamanho de objetos. Por exemplo, na imagem abaixo, dependendo do ponto em que olhamos, podemos enxergar duas pessoas nas laterais ou um cálice no centro.


Figura 2 - Imagem de dois rostos ou um cálice, dependendo da visão do observador

Fonte: Mundo Educação UOL


Além disso, a  ilusão de ótica fisiológica ocorre quando temos estímulos através do  movimento, luz, brilho e cor que atrapalham o sistema visual. Na imagem abaixo, por exemplo, a ilusão faz com que o observador veja pontos cinzas nas intersecções dos quadrados pretos: esses pontos cinzas não existem na realidade, e são causados pelo contraste das cores da imagem.


Figura 3 - Exemplo de ilusão de ótica fisiológica.

Fonte: Mundo Educação UOL


Para compreender mais a fundo a ilusão de ótica, é importante relembrar de conceitos da ótica geométrica e da visão. Na Física, a ótica estuda a  luz como radiação eletromagnética. Ela se propaga em linha reta e pode sofrer refração e reflexão, além de possuir propriedades como frequência, comprimento de onda e velocidade, que determinam características como cor e comportamento em diferentes meios. O estudo dessas propriedades permite entender como a luz interage com materiais diversos, desde meios transparentes a opacos. 


Com base nesses conceitos físicos, a córnea e o cristalino funcionam como um “sistema de lentes” que refratam a luz e projetam uma imagem invertida sobre a retina, que atua como um sensor óptico. A partir da interação entre a luz e as estruturas do olho, ocorre o processo da visão, interpretado pelo cérebro. A física, nesse caso, permite compreender como a luz forma imagens e como alterações nesse processo levam inclusive a defeitos visuais, como miopia.


Além disso, é interessante observar como os fenômenos ópticos também estão presentes no universo do entretenimento, especialmente em espetáculos de mágica e no circo. A ilusão de ótica, nesse contexto, não é apenas um truque visual: é uma ferramenta baseada em tais princípios físicos bem definidos, usada para provocar surpresa e fascínio. Mágicos e ilusionistas utilizam o conhecimento da óptica para criar efeitos que desafiam a percepção do público, explorando a forma como a luz se comporta e como o cérebro humano interpreta o que vê.


Um dos recursos mais clássicos é o uso de espelhos. Aplicando as leis da reflexão da luz, os mágicos posicionam espelhos em ângulos estratégicos para esconder objetos, duplicar imagens ou criar ilusões de transparência. Isso é possível porque a luz, ao incidir sobre uma superfície refletora, muda de direção de acordo com o ângulo de incidência. Quando bem posicionados, os espelhos fazem com que um objeto simplesmente desapareça da visão do espectador, mesmo estando fisicamente presente.


A iluminação também é parte fundamental nos espetáculos de mágica. Através da manipulação da direção, intensidade e cor da luz, é possível criar sombras que camuflam movimentos ou destacam apenas o que se deseja mostrar. Com isso, o mágico controla o foco visual do público, induzindo-o a ignorar ações importantes que ocorrem fora do centro de atenção. Essa manipulação luminosa está diretamente ligada aos conceitos de propagação da luz e contraste de cores, além da fisiologia da visão humana.


Além das ilusões físicas, os mágicos exploram também ilusões cognitivas, aquelas que surgem a partir de interpretações mentais incorretas do que é visto. Por exemplo, em números de desaparecimento, truques de troca de figurinos ou levitação, o cérebro é enganado por padrões, movimentos rápidos e continuidade de ação, preenchendo com suposições aquilo que não consegue acompanhar em tempo real. No circo, esse tipo de ilusão é potencializado pelo uso de figurinos que se misturam ao fundo, movimentos sincronizados e padrões visuais que criam confusão óptica, como listras e espirais.


Figura 5 - Representação de um “truque de mágica” comum em circos.

Fonte: Incrível


Truques com lentes ou superfícies transparentes também utilizam o fenômeno da refração, em que a luz muda de direção ao passar de um meio para outro. Um objeto pode parecer maior, menor, torto ou deslocado ao ser visto através de lentes ou líquidos com diferentes índices de refração. Esse princípio é o mesmo que explica por que um canudo parece quebrado dentro de um copo com água, e é aplicado artisticamente para transformar objetos ou criar ilusões de movimento.


Figura 6: Refração da luz na água.

Fonte: Mundo Educação UOL


Dessa forma, os espetáculos de mágica e circo demonstram que a física, especialmente a óptica, pode ser tão encantadora quanto as próprias ilusões. O estudo do comportamento da luz, dos espelhos, das lentes e da percepção visual permite criar experiências imersivas, que desafiam os sentidos e convidam o público a questionar aquilo que vê. Com isso, ciência e arte se unem para transformar o conhecimento em encantamento.



Referências Bibliográficas

BUENO, André Buzatto Correa. Ótica e a visão humana. 2012. 50 f. Trabalho de conclusão de curso (licenciatura - Física) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, 2012.


FONSECA, Braulio Pedroso. Ilusões de ótica. VIII Mostra das Ciências e Inovação da ULBRA, Canoas, 25 out. 2023. Disponível em: https://eventos.ulbra.br. Acesso em: 17 jun. 2025.


MACHADO, Ana Cecília. Ilusões de ótica: o olhar que engana. Ciência Hoje das Crianças, Rio de Janeiro, n. 219, maio 2010. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/o-olhar-que-engana/. Acesso em: 16 jun. 2025.


MUNDO EDUCAÇÃO. Ilusões de ótica. Portal Mundo Educação, 2023. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/fisica/ilusoes-oticas.htm. Acesso em: 16 jun. 2025.


SILVA NETO, Honório Pereira da; SILVA, Yara Maria Resende da; SILVA, Miguel Henrique Barbosa e; VALADÃO, Etevaldo Macedo. O estudo da física através da ilusão de ótica. CONGRESSO INTERNACIONAL DAS LICENCIATURAS, 4., 2017, Teresina. Anais [...]. Teresina: COINTER - PDVL, 2017.


SILVA, Karina Batista da; VISCONDE, Amanda Jdenaina Mendoza; LIMA, Lorena Costa Rosa de Souza; DIAS, Sílvia Regina Costa. Neurobiologia da visão e da ilusão de ótica. Revista do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora - CES/JF, Juiz de Fora, MG, 2023. Disponível em: https://seer.uniacademia.edu.br. Acesso em: 17 jun. 2025.


THOMAS, Kevin. Magic and showmanship: a handbook for conjurers. New York: Dover Publications, 1976.

 
 
 

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